O reforço na fiscalização contra as irrigações irregulares não foi suficiente para frear a queda no nível de água no açude Epitácio Pessoa, em Boqueirão, responsável pelo abastecimento de água em São Vicente do Seridó e outras 17 cidades da região, ao exemplo de Campina Grande. O reservatório está com 192,9 milhões de metros cúbicos de água, o que representa 46,9% da capacidade total.
Os dados são da Agência Executiva de Gestão das Águas da Paraíba (AESA) e apontam que nos últimos sete meses Boqueirão perdeu 58,6 milhões de metros cúbicos de água, o que representa 14% do volume total que é de 411,6 milhões de metros cúbicos. Em janeiro, Boqueirão registrava 251,5 milhões de metros cúbicos e desde então continuou perdendo volume, atingindo o menor nível dos últimos 10 anos.
A situação se agrava com o fim do período chuvoso na região. Em fevereiro, a expectativa da AESA era de que o volume pudesse ser recuperado aos poucos com as chuvas previstas a partir de março e com isso pudesse chegar a 80% a capacidade total, o que não aconteceu. Mas apesar de Boqueirão estar atualmente com menos da metade da capacidade atual, a AESA descarta a necessidade de racionamento, pelo menos por enquanto.
“A situação é de tranquilidade. Campina Grande já passou por momentos difíceis com Boqueirão abaixo de 20%, mas com o nível atual, mesmo que chova nos próximos meses, estaremos com o abastecimento garantido até fevereiro de 2015. Não existem motivos para pensar em racionamento antes de 2015, mesmo sem chuvas”, garantiu João Vicente, presidente da AESA.
Porém, o aumento da temperatura com a chegada do verão pode agravar ainda mais a situação em Boqueirão, acentuando a queda no volume. “A gente ainda não tem previsão de chuva e a situação já é preocupante. Temos pela frente meses quentes, onde a perda de água pela evaporação é maior”, alerta Everaldo Jacobino, responsável pelo Departamento Nacional de Obras Contra a Seca (DNOCS) em Boqueirão.
A Companhia de Águas e Esgotos da Paraíba (CAGEPA) também não confirma a possibilidade de racionamento, mas está intensificando o combate ao desperdício de água. “A CAGEPA não gerencia o açude e não podemos atuar diretamente com relação ao volume do açude nesse período de escassez, o que estamos fazendo é reduzir o tempo de espera pela resolução de vazamentos para reduzir o desperdício ao máximo possível”, afirmou Alexandrina Formiga, gerente regional da CAGEPA em Campina Grande.
AUDIÊNCIA
Uma audiência pública será realizada no próximo dia 22, em Campina Grande, para discutir a situação de Boqueirão, com a participação de representantes da Agência Nacional de Águas (ANA), além de AESA, CAGEPA, DNOCS, Ministério Público e universidades da região.
IRRIGAÇÃO CONTINUA
Pequenos agricultores que moram nas imediações do açude de Boqueirão continuam usando a água do manancial para irrigação, apesar da proibição anunciada em março deste ano. De acordo com o presidente da AESA, João Vicente, cerca de 20 pequenos agricultores com plantação de até no máximo 5 hectares estão usando as águas de Boqueirão para manter a agricultura de subsistência. Plantações maiores estão proibidas de manter a irrigação.
Os pequenos produtores estão sendo cadastrados pelo Departamento Nacional de Obras Contra a Seca (DNOCS) para regularizar a situação junto à Agência Nacional das Águas (ANA).
“A irrigação continua porque a ANA vai autorizar para quem já tinha área plantada até fevereiro deste ano”, informou Everaldo Jacobino, responsável. O DNOCS está usando imagens de satélite para fazer o georeferenciamento da área do manancial e identificar irrigações ilegais.
Segundo João Vicente, da AESA, o aspecto social pesou na decisão de manter os pequenos agricultores. “Tínhamos irrigantes irregulares com até 100 hectares de terra e estes foram suspensos. O que há ainda são pequenos irrigantes que dependem da água para a agricultura e que sem ela acabariam partindo para as periferias das cidades. São plantações de agricultura de subsistência que usam um volume insignificante de água na irrigação”, explicou.
São Vicente Agora com Jornal da Paraíba
Foto: Leonardo Silva
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